quinta-feira, 14 de abril de 2011

Daniel Claro rebate números do desemprego em Azambuja

Continua a luta pelos números do desemprego do concelho de Azambuja. Esta quinta-feira conheceu um novo capitulo. Depois dos argumentos de parte a parte entre o vereador António Jorge Lopes, Joaquim Ramos e Marco Leal, hoje foi a vez de Daniel Claro aqui a representar o Bloco de Esquerda que contestou a leitura dos números por parte da maioria socialista e juntou-se  a Jorge Lopes nas criticas ao executivo.
Na sequência de toda a discussão, o deputado municipal insurgiu-se contra a autarquia através de uma carta aberta que o Estado Velho publica na integra.

"Publicou a Câmara Municipal de Azambuja, no seu site oficial, uma nota intitulada “Desemprego desce em Azambuja, no ano de 2010,……” em que certamente pela bondade de um optimismo pouco avisado, ou por uma deficiente e apressada análise, se produzem afirmações que importa referenciar e objectivar por uma análise mais atenta.



Em primeiro lugar, um olhar sobre a temática desemprego mesmo a um nível concelhio não pode nem deve ser feito apenas com uma análise estatística do desemprego inscrito nos centros de emprego. Nenhum organismo credível nacional ou internacional com responsabilidades estruturantes o faz, por saber que o desemprego inscrito está sempre abaixo da realidade, por razões que estão estudadas e que me dispenso de comentar.


Em segundo lugar, e servindo-me apenas do método de análise utilizado por essa Câmara, se assim não fosse, como justificar então que o desemprego concelhio tenha subido em Janeiro de 2011 para perto de um milhar (976) de pessoas, sendo certo que nenhum acontecimento laboral o justificou! Será que apenas num mês o desemprego concelhio aumentou 6%...?


A realidade é outra e mais profunda!


Continuando com a simples análise do desemprego inscrito e avançando de Janeiro de 2009 até este momento, podemos verificar que o desemprego registado do concelho de Azambuja se mantém consistentemente a rondar o milhar de desempregados, o que demonstra que se trata de facto de desemprego estrutural e não conjuntural como de algum modo se poderia inferir da nota publicada.


Podemos também verificar nos números publicados, uma tendência que já inferíamos por amostragem, de que para além do desemprego propriamente dito, temos, à semelhança do país, uma importante taxa de precariedade no emprego. Estas situações – desemprego e precariedade – levam a que, sociológica e economicamente, cerca de 25% da população concelhia seja afectada, directamente ou indirectamente…


Tem esta Câmara Municipal divulgado com enfâse, que nos últimos anos foram criados no concelho mais de 3 000 (três mil) postos de trabalho e nem vale a pena discutir a bondade dos números ou sequer a tipologia do emprego criado, mal remunerado muitas e muitas vezes e de carácter precário. Também nem sequer quero responder à insensibilidade social e até de estratégia política e económica de quem propagandeia que vale mais um emprego precário de quinhentos euros que nenhum – tal é uma verdade da La Palisse - escondendo o conformismo misturado de insensatez de quem não percebe que isso afecta a estabilidade social das famílias e até um sector económico como o comércio de proximidade, que vive fundamentalmente daqueles que “vivem, trabalham e compram no concelho” e não daqueles que “vivem no concelho, mas trabalham e compram fora dele” e têm em geral empregos mais estáveis e melhor remunerados!


A verdade é que, e dando como bons esses números, tal significa que o emprego criado no concelho porventura não corresponde ao perfil dos nossos desempregados e nos tornámos, ironicamente, “exportadores” de postos de trabalho, devendo merecer tal situação um estudo aprofundado do “fenómeno” descrito.


Assim, é nosso entendimento que esta temática deve ser aprofundada de modo sério com base em vários pressupostos:


 Qual o perfil dos desempregados do concelho (idade, habilitações literárias e profissionais, situação face ao emprego, etc….)?


 O emprego criado no concelho nos últimos anos corresponde ao perfil dos nossos desempregados?


 Como é feito por parte das empresas o recrutamento de pessoal (muitas vezes com recurso a empresas de trabalho temporário sediadas em concelhos limítrofes – Alenquer, Vila Franca, etc… - o que explica desde logo a origem de muito pessoal recrutado por empresas a laborar em Azambuja…)?


 Que medidas pode uma Câmara adoptar para intervir com critério e objectividade numa área em que não detém responsabilidades directas?


Neste sentido e com base nestes pressupostos, o Bloco de Esquerda apresentará na Assembleia Municipal a seguinte proposta de intervenção camarária:


1. Elaboração de um estudo do perfil dos desempregados do concelho (este estudo pode ser feito com recurso a técnicos camarários da área social e da educação que possuem sensibilidade e até qualificação para o efeito);


2. Condicionar – nos casos em que tal se aplique – a atribuição da “declaração de interesse municipal” à celebração de um protocolo com as empresas requerentes que contemple a prioridade à criação de emprego que corresponda ao perfil dos desempregados concelhios, bem como o acesso prioritário aos mesmos em igualdade de circunstâncias;


3. Criação de um Conselho Económico para o Desenvolvimento que integre empresas, associações do sector empresarial e sindicatos com representatividade no concelho que estabeleça uma ligação próxima entre a Câmara e o tecido produtivo do concelho nas suas diversas vertentes, permitindo uma sensibilização das empresas para um intervenção concelhia com responsabilidade social, um aconselhamento estratégico para o desenvolvimento e uma monitorização atempada das perspectivas de criação de futuros empregos;


4. A edição – em moldes e periodicidade a definir – de um boletim concelhio para o emprego, com uma ampla divulgação através do site camarário, das juntas de freguesia, associações empresariais e colectividades de cultura e recreio, de molde a chegar rápida e eficazmente aos destinatários.


Evidentemente que esta nossa proposta não exclui outras que possam ser apresentadas e pretende sobretudo a abertura de uma discussão séria e fundamentada de um problema que já é estrutural e ameaça tornar-se sistémico nos próximos meses. Resta-nos esperar que por parte do executivo camarário haja uma disponibilidade descomprometida para discutir estas propostas!






Azambuja, 12 de Abril de 2011"

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